sábado, 30 de maio de 2009

Luluzinha também cresceu!

Confesso que nunca fui muito fã da Luluzinha e tudo indica que essa impressão ruim que eu tinha do desenho não passou. A mocinha, tal qual a Mônica cresceu e também se transformou em mangá.

A Ediouro está divulgando que gastou mais de R$ 1 milhão para encontrar o tom certo da sensualidade que o alvo do produto exige. A estilista Glória Khalil foi a responsável pelo visual da personagem.

Vale notar que as garotinhas viraram adolescentes com o corpo perfeito, estilosas e lindas!

Uma disputa e tanto para as garotas normais que tem TPM, conflitos com o próprio corpo, insatisfação com o seu estilo de vida... e por aí vai!

Daqui a pouco, serão transformadas em Barbies, com mil e uma profissões, peitos e bundas em ordem e ainda namorando o Ken ou o Bob (nunca soube dizer qual era mesmo o par dela).

É o tal problema da erotização de personagens infantis. Ok, as duas foram feitas para serem vendidas para adolescentes e não vivemos mais em uma sociedade tão tacanha que proíbe falar sobre sexo e outros assuntos obscuros (será?).

O Cebolinha “pira” diversas vezes olhando para a bunda e para o peito da Mônica!!! Será que mostrando essa atitude eles não estão dizendo algo do tipo: “olha, é normal ficar ‘secando’ as mulheres. Vamos, faça igual”.

Existe uma repetição de padrões e comportamentos machistas que acabam então ficando sedimentados no imaginário da sociedade, que passa a repetir, reproduzir, pérolas como essa.

Não li ainda a história da Luluzinha, mas a foto que está sendo divulgada diz muito sobre isso...

E aí, enquanto a gente lia sobre um garoto que tentava dominar a rua e só se dava mal, as crianças de hoje (que apesar de não serem o alvo vão acabar criando uma identificação com o produto e classificá-lo como um modelo a ser seguido) irão ler sobre como uma adolescente gostosa pode ser olhada indiscretamente, usar saia curta para conquistar e servir como modelo de perfeição a ser alcançada.



PS – eu acompanho o gibi da Mônica e tirando alguns detalhes, estou gostando bastante....

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Turma da Mônica Jovem

Já teve a oportunidade de ler o novo gibi da Mônica? A turminha cresceu e está acompanhando o avanço do mundo. A nova roupagem causa um certo estranhamento para quem acompanhou aquelas historinhas com a baixinha, dentuça e gorducha da mônica. Hoje ela está bem mais “caliente”. Com saia curtíssima e celular que toca música dos Beatles, a filha do Maurício de Sousa, está toda moderninha, até beijando na boca!!! Mas o que chama atenção mesmo é a forma escolhida para se atualizar no que diz questão à linguagem. Acredite, o “vc” é mais que bem-vindo no gibi. Existem muitas outras coisas interessantes para falar, no entanto, observa-se que a linguagem da internet pulou para os quadrinhos e “tomou conta geral”. A questão que se abre é: seria um desserviço para a educação?
Qual o papel dessa leitura? Posso contar que eu só desenvolvi meu gosto por leitura por causa do exemplo (via minha mãe lendo) e pelos gibis da Mônica (ficava no supermercado na parte de revistaria lendo livros e os gibis enquanto meus pais faziam compras). Se com esse tipo de atitude eles conseguirem conquistar novos leitores, excelente! Mas e se acontecer o contrário? E se nossos queridos jovens da vida real passarem a achar que você é “vc” mesmo? A língua falada é mutante, mas podemos permitir isso na língua escrita? Seria um protecionismo excessivo ou existe razão para ficar incomodada?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Eu...

Ligue o rádio agora ou tente lembrar-se da sua letra preferida de música. Vamos fazer uma aposta? Dou uma meia furada para quem pensar ou ouvir uma canção que não tenha o onipresente “Eu”.

A teoria é que o individualismo exarcebado e incitado pela nossa cultura está sendo refletido diretamente na música. O Eu marcando seu espaço. O pronome aparecendo inclusive físicamente.

Por uma questão social, que não é o tema de debate aqui, somos cidadãos apolíticos. O resultado desse distanciamento da política, (um breve exercício lingüístico: política, polis, cidade. Ou seja, tudo que diz respeito à cidade, não necessariamente à conjuntura política, partidos e tudo mais), existe um discurso vazio. Os problemas sociais, com raras exceções não preocupam. O que importa é a dor de cotovelo, o amor que brota no peito, a vida festeira e outros temas que nada trazem de novo.

Falta verdade à música brasileira. (Só um adendo: não é saudosismo pois não vivi os grandes momentos da história musical.) Falta falar sobre a verdade de cada um, sobre nossos problemas. Falta apontar soluções. Uma volta ao passado com os olhos no futuro é sempre a solução para os problemas em grandes crises. A história é cíclica, no entanto, foi essa mesma história que nos trouxe até aqui, no mundo de hoje.

Uma ressalva: vale falar que o circo pode ser o nosso “Tupy or not tupy” (não entendeu? Dê um Google no movimento antropofágico liderado por Oswald de Andrade). Estamos vendo uma valorização do circo que já está deixando de existir no espaço físico como era antigamente. Com a proibição dos animais nas apresentações, a desvalorização dessa arte e o interesse pela tecnologia o espetáculo tem sido reinventado. Como o que faz o grupo Teatro Mágico. O Cirque Du Soleil é a apropriação disso pela classe dominante. O homem no semáforo, representa a diversão daqueles despossuídos, os pobres!

Talvez, o fato de não termos tido nenhuma ruptura, como a semana de arte moderna (já sabe, Google), prejudique a observação de tais mudanças. Como o sapo na água quente. Se você o coloca na água fervida, ele pula fora, agora, se for aquecendo gradativamente, ele não percebe e morre...

Como será com a gente? Existe caminho para uma nova cultura? Qual será o nosso próximo passo?

Nem sei por que escolhi fazer uma pós. Foi o embalo de um bom preço, curto período e a vontade de conhecer coisas novas. Dali, veio a ideia de fazer um blog. Sugestão de uma professora. Era pra ser da sala inteira, como não houve entusiasmo do pessoal, resolvi tentar sozinha.Sendo sincera, ainda não defini exatamente sobre o que escrever, daí vem o nome genérico Só Coisas da Ju... Uma forma de livrar minha cara de precisar manter um padrão.

Chega de conversa fiada, pro primeiro post resolvi escrever sobre o papel da mulher. Não é um papo feminista, juro! É que estamos acostumados a idealizar a mulher, normalmente vinculada com a figura da mãe, aquela sábia que está sempre pronta a ajudar, a rainha do lar. Existe ainda a mulher trabalhadora: eficiente, independente e bem resolvida. Não posso esquecer de citar o outro lado, a mulher-produto - usada pelos outros e por si mesma.

No entanto, existe uma figura feminina pouco apontada em nossos produtos culturais, a mulher sertaneja. E é exatamente dela que fala o grupo teatral Mulheres de Eldorado. Importante notar que as componentes do grupo são representantes dessa mulher, em idades entre 23 a 70, são trabalhadoras, pouco estudadas, possuem filhos, o rosto trazem as marcas da vida já vivida.

O projeto surgiu no bairro de Eldorado na cidade de Diadema, na grande São Paulo, e é coordenado e coreografado por Rose Maria de Souza. O intuito é usar a dança para descobrir a auto-estima e a cidadania. Juntas desde 1994, elas apresentaram a peça Maria Resistência. É um momento de descoberta ou de redescoberta de um modelo feminino adormecido no imaginário nacional. A lembrança de que nossa história não foi feita apenas de Lampião, como lembra Rose Maria, no especial Mulheres do Eldorado, da SESC TV, existiu Maria Bonita também! Suas descendentes continuam vivas, batalhando pela sobrevivência nesse grande sertão chamado Brasil.